Fojos das Pombas

Há vinte séculos, o império Romano encontrou nas serras de Santa Justa e Pias um potencial de grande riqueza e expandiu-se na região com o propósito de explorar ouro, deixando-nos uma herança verdadeiramente impressionante.

Na serra de Santa Justa, podemos observar pelo menos dois tipos de mineralizações, umas que são verticais e outras que são estruturas horizontais. As estruturas verticais têm uma designação local de Fojos, são muito desenvolvidas e, por vezes, são intercetadas por poços de exploração subterrânea e por galerias que depois dariam acesso aos desmontes mineiros. 

Nos anos sessenta do século passado, foram efetuadas escavações nesta mina e encontradas várias peças que confirmam a sua exploração no tempo dos romanos.

Entrada da Galeria

A galeria é abobadada e tem ângulos arredondados, que lhe conferem maior estabilidade. Nas paredes, ainda se veem as marcas das ferramentas em ferro usadas pelos romanos.

 

Este povo usava a técnica da água e do fogo para destruir as rochas: trazia madeira para fazer fogo, aquecia a rocha e depois sujeitava-a a um choque térmico para facilitar a sua moagem, posteriormente.

 

 

 

Nas paredes, existem pequenos nichos onde eram colocadas as lanternas (feitas em cerâmica para iluminar os trabalhos).

Paragem na Primeira Plataforma - Boca do Fojo

Esta plataforma denomina-se a boca do fojo e é uma estrutura muito grande, não natural, pois foi escavada pelo homem.

Olhando para as escarpas, observa-se uma grande biodiversidade. De facto, são constituídas por vegetação muito diferente, devido à sua diferente exposição solar. A escarpa que está mais exposta ao sol está mais seca, sem vegetação.

 

 

 

A outra, que não recebe luz solar, conserva a humidade, está mais verde com musgos e nela pode ver-se o feto arbóreo Culcita macrocarpa (ou Dicksonia antarctica ??). 

Este feto é proveniente da Nova Zelândia e é considerado um endemismo ibero-macaronésio, encontrando-se confinado a algumas localizações pontuais nos Açores, na Madeira, nas Canárias e em muito poucas localidades da Península Ibérica. Em Portugal continental, tem a sua distribuição limitada a populações residuais nos fojos, pelo que é considerado uma espécie muito rara.

 

Observa-se também, nesta plataforma, pequenos nichos, que os arqueólogos acreditam que tivessem sido usados para a colocação de travejamento, ou seja, para colocar uma espécie de andaimes para os romanos fazerem os trabalhos de escavação em altura.

 

 

Os romanos iniciavam a exploração de cima para baixo, encontravam um filão de quartzo e seguiam-no, surgindo o fojo, e, em alguns patamares, abriam as galerias na horizontal, o que fez com que existam estas cavidades muito grandes. A água do fundo do fojo era um problema com o qual os romanos tinham que lidar. Para resolver esse problema, eles faziam minas de escoamento de água e criaram técnicas de extração, através de tanques e de materiais como o parafuso de Arquimedes e as noras, transportando a água dos níveis inferiores até aos canais de escoamento superiores.

 

Paragem na segunda plataforma-Galeria de escavação

 

Nesta paragem, deparamo-nos com uma galeria de escavação. O teto da galeria brilha, mas não é ouro; trata-se de ligas cobertas com pelicula de água que brilham com a luz.

 

 

 

 

As paredes da galeria têm cores alternadas, entre castanhos, cinzentos e vermelhos, devido a óxidos de ferro que existem na própria rocha, que são transportados pela água.

 

 

 

 

 

Também se visualizam filões de quartzo no interior da mina que os romanos não exploraram, por questões de estabilidade da mina. 

 

 

Há registos de que por cada tonelada de rocha extraída das minas pelos romanos, apenas vinte a quarenta gramas de ouro eram separadas, consoante a qualidade do filão. Nesta região, foram extraídas oito toneladas de ouro, o que significa que toda a região de Valongo contem inúmeras cavidades de exploração mineira, o que torna o anticlinal de Valongo, em termos de império romano, a zona com maior quantidade de trabalhos subterrâneos para a mineração de ouro.